quinta-feira, 28 de setembro de 2017

FM-24- POBREZA E AMOR

4º CAPÍTULO DA 4ª PARTE


POBREZA E AMOR

(16/10/1948)

“ Nós devemos permanecer infinitamente fiéis ao próprio pensamento de Jesus e, ao mesmo tempo, às solicitações concretas de nosso amor por aqueles que sofrem injustiças e despojamento.
É, pois, à luz de uma compreensão cada vez mais profunda do Evangelho, - que precisamos descobrir de novo cada dia - , que se deve formar pouco a pouco, no fundo do nosso coração, em nosos reflexos, em nossos julgamentos, numa palavra, em todo o nosso comportamento, o verdadeiro pobrezinho de Jesus, tal qual Ele o quer, tal qual ele o ama”.

“Essa pobreza é cheia de alegria e de amor, e precisamos evitar de opormo-nos a ela que é coisa delicada e divina, uma caricatura humana que teria talvez as aparência dela, poderia a alguns parecer como mais “materialmente” autêntica, mas estaria ameaçada de acabar em dureza, em julgamentos sumários, em condenações, em desunião, em quebra de caridade”.

“Seremos pobres porque em nós está o espírito de Jesus, porque sabemos que Deus é infinitamente simples e pobre de toda posse e sobretudo porque, tal como Ele, nós queremos amar os pobres e partilhar sua condição”. Sejamos pobres, se não quantitativamente, pelo menos qualitativamente.

“Se a pobreza de vocês não for um semblante do amor, não é autenticamente divina. As exigências da pobreza não podem estar acima das exigências da caridade: desconfiem das caricaturas por demais humanas da pobreza. A tentação do pobre é a inveja, o ciúme, azedume do desejo, a condenação daqueles que possuem mais do que ele; vocês não estão completamente isentos desse risco, senão talvez por vocês mesmos, ao menos por compaixão dos pobres que ressentem confusamente os ataques desse mal”.

Fazer ouvir com firmeza as justas reivindicações dos oprimidos, mas sem perder o amor e sem condenar. Coração tão vasto como o mundo! Nunca julgar (Lc 6; Mateus 7). Nunca condenemos os ricos dos quais não conhecemos nem as intenções nem o coração. Condenar, sim, os abusos dos regimes políticos, mas nunca o nosso irmão.

Todos devem sentir-se em casa na Fraternidade, tanto o patrão, como o mais pobre operário, se bem que, pelo nosso estado de vida, vão para este as nossas preferências. Não nos iludamos com os slogans das lutas de classe. O tabernáculo é a arma que encontramos para vencer as revoltas que sentimos pelas injustiças. “O mais das vezes, será no silêncio que nós teremos de carregar essa ferida da injustiça e oferecê-la a Deus como um sacrifício de Redenção.

POBREZA EFETIVA

“Em cada Irmãozinho há um pobre por amor, e essa pobreza deve realizar-se na ida concreta que, para um certo número de vocês, será uma vida de trabalho”. Também em cada um de vocês há um missionário, um enviado de Cristo e de sua Igreja. “Não fechem a sua vocação nos estreitos limites de uma pobreza de trabalhador. As Fraternidades devem ir, mundo a fora, por todos os países e junto a todas as raças, levar um testemunho vivo do Cristo das bem-aventuranças.”

O autor coloca aqui uma série de dificuldades, como a língua, teologia,viagens, primeiras instalações... “tudo isso deve ser feito numa jubilosa confiança na Providência que faz milagres, na submissão total ao ritmo da expansão que o Senhor quiser para nós, e no ardente desejo do amor que tende a se difundir. Não limitem suas ambições. Se, por vocação, você deve ficar escondido numa usina da França, não esqueça seus irmãos que, em nome da Igreja, irão, para longe, levar a mesma mensagem”.

Isso se faz com alguns recursos, que devemos aceitar da cristandade, já que o peso dessa missão é desproporcional aos recursos de pobres trabalhadores.

Preservem-se do espírito de avareza. Que a preocupação exagerada de ganhar a vida só pelo trabalho não apague em vocês a generosidade, a fé confiante total nas promessas de Jesus: “procurai o Reino de Deus e o resto vos será dado por acréscimo”

Quando vocês ajudarem alguém, o dinheiro deve ser tirado do seu salário ou da pensão de estudante, conforme for o caso: privar-se do necessário por amor a um mais pobre do que nós. Saiam do horizonte pessoal e se coloquem sobre o plano que deve ser a Fraternidade.

Quando vocês sofrerem por ainda não serem suficientemente pobres, lembrem-se de que “a pobreza perfeita, como o perfeito amor, é irrealizável aqui na terra em toda a sua medida divina”. Os fatores de equilíbrio: contemplação e ação, oração e caridade fraterna, força e doçura, vida oculta silenciosa e disponibilidade às pessoas, tensão no equilíbrio mas nunca instalação numa solução de facilidade.

Os elementos da pobreza de Cristo, de que devem viver nossas Fraternidades são, antes de tudo, essencialmente os seguintes:desapego, vida efetivamente pobre, amor dos pobres, que devem sentir-se em casa em nossas Fraternidades, fé capaz de transportar montanhas, confiança na Providência.

Desapego: a todo bem criado, ao dinheiro, ao trabalho. Preparar-se para só pertencer a Deus “raiz do espírito de unidade que deve constituir o laço indissolúvel das Fraternidades.

Vida efetivamente pobre: seguindo o padrão que exige a vocação de vocês.

O amor dos pobres, nossos preferidos, gostar de estar na companhia deles, que eles possam sempre sentir-se em casa nas Fraternidades. Sinal que nunca enganará. Mais importante que os outros dois. É preciso que o ambiente da Fraternidade seja pobre e simples para que um pobre aí se possa sentir em casa, mas será sobretudo porque ele sentirá o amor de um coração realmente fraterno.



Fé capaz de transportar montanhas- e a confiança na Providência, que ousa tudo esperar, tudo pedir, tudo aceitar, tudo empreender para que reinem, no mundo, o Amor de Cristo. “Quando estiverem convencidos de que Jesus lhes pede alguma coisa, não parem jamais no meio do caminho por uma questão material ou por medo de faltar o dinheiro. Não tenham o espírito calculador. É preciso crer no milagre, e que cada um tenha no fundo do coração com uma humildade de criança, uma fé tal como a que o Cristo pede: “Tende fé em Deus. Em verdade eu vos digo que aquele que dissesse a esta montanha: levanta-te e joga-te no mar, e não hesitasse em seu coração, mas cresse que isto aconteceria, isto aconteceria de fato. Eis por que eu vos afirmo: tudo o que pedirdes, rezando, crede que o obterás , e isto vos acontecerá” (Marcos 11,22-24)