quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

DESPEDIDA DO MÁRIO FILIPPI

de Dom Edson
Querido irmão, Querida Irmã!

Partilho com você o testemunho-despedida do querido Pe Mário Filippi,Fidei Donum enviado pela arquidiocese de Trento. Veio juntamente como Pe Cláudio Dalbon e Pe Maurizio Gotardi, em 1996.

Trabalhou 42 anos no Brasil. Iniciou a missão em Santa Maria, RS.Foi pároco, e a seguir, durante sete anos, morou na Vila Matadouro e trabalhou padre operário.

Depois, juntamente com o Pe Cláudio Dalbon, foi trabalhar no Recife. Quando D.Helder foi para o céu, o arcebispo sucessor expulsou os dois. Transferiram-se para a periferia de Manaus.

Pe Mário acompanhava as invasões. Construía seu barraco no meio das famílias. Reservava um terreno para construir uma capela com a ajuda do Pe Luis Giuliani e do Pe Cláudio.

Retornou à Itália para acompanhar os últimos anos de sua mãe. Quando soube da minha nomeação, em 2009, prontificou-se para ser missionário entre os índios, durante seis anos, em São Gabriel da Cachoeira.

Por onde passou sempre testemunhou a alegria de ser presbítero, o amor apaixonado pelo Bem Amado Irmão e Senhor Jesus, o serviço aos pobres, a fidelidade à Palavra de Deus que sabia transmitir com entusiasmo e encanto.

Pe Mário partiu de São Gabriel da Cachoeira no dia 28 de dezembro. Obrigado, Pe Mário, Marietto, como te chamava tua mãe Amabile! Farás muita falta entre nós. Sentiremos imensa saudade de ti, da tua amizade, do teu testemunho, da tua alegria. Deus te pague e te dê ainda muitos anos perto dos teus familiares e no ministério pastoral que Dom Lauro, arcebispo de Trento, vai te confiar. E se um dia quiseres voltar, estaremos te esperando de corações e braços abertos.

DO ALEX

Grande Mário. Lembro bem da mãe dele, na região de Trento, que visitamos em 1992.

Mário foi um verdadeiro missionário, que soube armar a tenda onde estavam acampados os pobres: sul, nordeste, norte e Amazônia.

Obrigado, Marietto, pela tua presença e solidariedade entre nós. No teu "descanso missionário", continues missionando desde a Bella Italia. Com tuas orações, pregações, escritos e entusiasmo. Quem sabe outras e outros se entusiasmem a armar as suas tendas no meio do povo.

Bom Natal para todos (as) e um Melhor 2017, onde a não-violência seja o caminho e o estilo de vida, como nos pede Francisco em sua mensagem.

Abraços. Pe. Alex

do padre Gildo

Caros Irmãos!

Agradeçamos à Deus pelo ano que terminamos, que possamos rever os caminhos, avaliar, confirmar, ou mudar a rota para no novo ano.

Que busquemos sempre a meta, no discipulado-missionário, na busca do último lugar, no serviço a todos, na solidariedade com os últimos, procurando os mesmos sentimentos de Cristo Jesus, o que veio em Belém-Nazaré, de Maria que deu-nos sua vida, tornando-nos verdadeiramente "Fraternos", e "Filhos"!

DO CARLOS

Muito obrigado, Dom Edson, pelo envio do testemunho-despedida do Padre Mário Filippi. Foi muito bom ler o texto, que é valioso e enriquecedor pela escrita elegante, e principalmente pela mensagem de humildade no relatar com autenticidade e transparência aspectos de sua vida espiritual. A sensação de insuficiência no exercício espiritual, que o Padre Filipi deixa ver no texto, parece sugerir fracasso, mas, ao contrário, revela um esforço enorme e exemplar de busca espiritual.

À imitação de Charles de Foucauld, que nos confins da Argélia, em Tamanrasset, não converteu ninguém, não fundou nenhuma ordem religiosa, e acabou assassinado por malfeitores em 1º de dezembro de 1916, um aparente fracasso. Nem por isso, ou por isso mesmo, não deixou de ser o "irmão universal", como falou Paulo VI, um exemplo de espiritualidade para quem é ansioso pelo Absoluto.

Fraterno abraço.

Carlos Alberto Alves Marques, aliás, Pila

DO HUMBERTO

Prezadíssimos, a começar pelo "pobre bispo do mato", Dom Edson!

A despedida do padre Mario Fillippi, que se vai à Itália de tantas glórias e generosidades, traz à cena das emoções, espetáculo de profundo cunho humanístico. Acho que meu último encontro com padre Mário deu-se na esquina da Avenida Rio Branco, com a Valle Machado, defronte a, então existente, Casa Farroupilha, em Santa Maria, pelo início da década de 1980. Ele já vivia seu apostolado engajado na comunidade da Vila Matadouro, zona Norte da cidade, ainda hoje das mais carentes.

De uma maneira ou outra, desde 1967, acompanhei, como outros da minha geração, a trajetória de doação daquele grupo de jovens padres italianos, que de Trento vieram ao Brasil e mais especificamente à Diocese de Santa Maria, onde deram muito de sua juventude e carisma sacerdotal.


Eram Mauricio, Cláudio e Mario, que no novo Zequinha, conviviam com os seminaristas e com os quais exercitavam seu português. A diocese, ao que lembro, já tinha a experiência de outros padres italianos - Padre Ettore, em Poço Redondo e padre Ezio, em Jaguari, este com destacada e profética atuação, tanto na Diocese de Santa Maria, quanto na de Bagé, onde veio a falecer, em Livramento, tendo atuado, também, em Lavras do Sul.

Mas, não só o Natal e Ano que está-indo-vindo e as notícias sabáticas do padre Mário em retorno, trazem alegrias e reencontros. O "pobre bispo do mato", com seu carisma, põe em sintonia queridos amigos que o tempo afasta, mas que as lutas da juventude guardam imorredouros na memória afetiva da amizade e do coração.

Anos atrás, logo do início do episcopado de Dom Edson, foi o reencontro com o querido e, agora, já catarinense, amigo, Jorge Zacarias. Agora, neste final de 2017, a ressurreição do "Guri do Hélio", o querido Pila e que galgou à glória da magistratura com o aristocrático e caçapavano nome de Carlos Alberto Alves Marques. Que alegria! Talvez precisemos de um "ano sabático" para reencontros e vivências, antes que a Outra Itália, a Sempiterna, nos leve a todos, inexoravelmente.

A sinceridade do padre Mário, mostrando a dignidade do sacerdote no coração do homem, faz lembrar-me uma autor, recomendado e badalado no Seminário, Guy de Larigaudie - que com seu "Estrela de Alto Mar", exercia certo fascínio pelo talento e pela vida que levava, sempre à procura de algo maior e superior. Claro que poderia lembrar muitos outros escritores-guias dos quais éramos livremente coagidos a gostar e a ler ou ouvir. Destacavam-se Tihamer Toth e Fulton Shen. Mas havia também, na antevéspera do Vaticano II e das grandes mudanças dos anos 1960, alguns autores que podíamos conhecer e ler: Saint-Exupéry, Emilio Salgari, Carlo Callodi, Edmondo de Amicis, Teilhard de Chardin, Michel Quoist , T. Merton e outros, incluindo brasileiros e portugueses não censurados.

Guy de Larigaudie, talvez inspirado em Charles de Foucauld, teve uma vida inquieta e inquietante, não conformado e sempre com o pé na estrada, quer literalmente ou quer como metáfora de uma existência desassossegada e provocativa para as mesmices que o rodeavam.

Somos gratos ao carinho e à dedicação do padre Mário. É positivo e gratificante que alguém, depois de tantos anos servindo ao povo de um outro país, tenha esta possibilidade do retorno ao seu torrão natal. Imagino que isto pudesse acontecer com tantos missionários e missionárias estrangeiros que, longe de suas terras, querências e famílias, possam um dia retornar. E por que não, acontecer também com os que são missionários na sua própria pátria? Imaginem Dom Edson retornando um dia à sua querida Fontana Fredda!

Falando em retorno, retorno às minhas insignificâncias, mas dando um grande e sincero significado ao Ano Novo que está batendo à porta e desejando que seja de muitas alegrias, bênçãos, realizações, angústias, indagações, sonhos, perguntas e respostas para cada um e os seus, bem como a todos que fazem parte de nossos afetos e lembranças.

Abraços

Humberto Gabbi Zanatta


DO CARLOS comentando o texto do Humberto

Saúdo fraternalmente a todos, especialmente ao Humberto, cujo texto me emocionou intensamente. É a verve do escritor e poeta inspirado que esgrima como poucos as palavras na prosa e as emoções na poesia. Agradeço a amável e evocativa referência ao "Guri do Hélio", ao "Pila". Apenas ressalvo, para quem não me conhece, que se trata de brincadeira do Zanatta que galguei "à glória da magistratura com o aristocrático e caçapava no nome de …".

Não busquei glória, me aposentei tão logo pude, e me dedico a cultivar jardim, ler e estudar o que me interessa, enquanto desfruto o prazer, que também é missão, de acompanhar a família que formei com a Gládis. Se o nome é "aristocrático", há dúvidas, a família certamente não é. Era muito pobre e com algumas disfunções. 

Só fui para o Seminário graças à bondade e generosidade do Padre Joselino Serafini, falecido há pouco segundo soube, de quem a dinâmica da vida me afastou, mas que povoa o que chamo meu panteão mental de lembrança dos que partiram antes, onde figuram também na minha evocação diária, os padres Chico Peripolli, Guido Ghesti, Afonso Körbes SJ, Jacó Melz SJ, Ernesto Rüppel SJ, Afonso Herzog SJ, Theo Kipper SJ e outros, cujos jazigos por vezes visito no Cemitério dos Jesuítas em São Leopoldo, junto ao Santuário do Padre Reus SJ.

Obrigado ao Dom Edson por oportunizar esse encontro. Que é virtual, mas importante face à dificuldade da alternativa presencial.

Fraterno abraço, com votos de muitas bênçãos do Alto, nesse Ano Novo, que todos tanto necessitamos.

Carlos Alberto Alves Marques, aliás Pila.

(quem ainda não conhece o pensamento do Pe. Mário, acesse seu retiro aqui ou no nosso site GRITAR O EVANGELHO-SITE