sábado, 28 de dezembro de 2013

ENSINAMENTOS DO PAPA FRANCISCO


Mensagens e ensinamentos 
do Papa Francisco 
Evangelii Gaudium 
Nelito Dornelas 

Evangelii Gaudium

A 'Evangelii Gaudium' (a alegria do Evangelho) perfila a Igreja que o papa Francisco quer. Trata-se de uma exortação apostólica pós sinodal que o Papa escreveu sobre o sínodo que discutiu a Evangelização nos novos tempos, acontecido em outubro de 2012 com a participação de bispos do mundo todo. O objetivo do Sínodo era discutir o “como anunciar o Evangelho no mundo de hoje”. Nesta exortação o papa conclama ao líderes mundiais a lutar contra a desigualdade e atacou duramente o capitalismo desenfreado, o qual ele considera uma “nova tirania”. 

A continuação, alguma citações do primeiro documento escrito diretamente pelo Papa Francisco


SOBRE A IGREJA E A EVANGELIZAÇÃO 1 


“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e lameada por sair às ruas, a uma Igreja preocupada por ser o centro, que termina fechada em um emaranhado de obsessões e procedimentos, doente pelo fechamento e comodidade de apegar-se às suas próprias seguranças”.

“A Igreja não é alfândega é a casa paterna onde há lugar para cada um com a sua vida, tal como ela é”.

“Os preceitos de Cristo são pouquíssimos. Não tenham medo de revisar alguns costumes e normas da Igreja”

"Uma excessiva centralização, mais do que ajudar, complica a vida da Igreja e a sua dinâmica missionária". 

“A Igreja deve chegar a todos, mas sobretudo aos pobres e doentes, aos que são marginalizados e esquecidos”.

“ A atividade missionária é paradigma de toda a Igreja. Um Igreja missionária não fica obcecada por uma transmissão desarticulada, a ferro e fogo, de inúmeras doutrinas”.

“Faz-se necessária uma conversão pastoral e missionária, que não permite deixar as coisas com estão”. 

“É vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem nojo, e sem medo. Chegando até à humilhação, se for necessário.” 


“É necessária uma reforma das estruturas eclesiais para que todas elas de tornam mais missionárias”.

“A evangelização deve-se concentrar no essencial que é o mais bonito: O Evangelho vivo. Há normas ou preceitos que podem ter sido eficazes em outras épocas, mas que já não tem a mesma força educativa.” 

Ter os templos com as portas abertas em todas as partes para que todos os que a buscam não se deparem com a frieza das portas fechadas.”

“Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados.” 

“Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro de ovelha», e estas escutam a sua voz.”

Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à auto-preservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade. 

“Deus nos livra de uma Igreja mundana sob roupagens espirituais e pastorais. “

“A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas sim um generoso remédio e um alimento para os fracos”

“Quantas guerras no seio da Igreja! A quem vamos evangelizar com este comportamento?” 

A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de lado a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade. 

Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há de chegar a todos, sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos! 

Enquanto no mundo, especialmente nalguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos «a carregar as cargas uns dos outros» (Gal 6, 2). 


A nossa tristeza e vergonha pelos pecados de alguns membros da Igreja, e pelos próprios, não devem fazer esquecer os inúmeros cristãos que dão a vida por amor: ajudam tantas pessoas seja a curar-se seja a morrer em paz em hospitais precários, acompanham as pessoas que caíram escravas de diversos vícios nos lugares mais pobres da terra, prodigalizam-se na educação de crianças e jovens, cuidam de idosos abandonados por todos, procuram comunicar valores em ambientes hostis, e dedicam-se de muitas outras maneiras que mostram o imenso amor à humanidade inspirado por Deus feito homem. Agradeço o belo exemplo que me dão tantos cristãos que oferecem a sua vida e o seu tempo com alegria.

Ser Igreja significa ser Povo de Deus, de acordo com o grande projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, deem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho.


SOBRE O PAPADO 2 


“Dado que estou chamado a viver o que eu peço aos demais, também devo pensar em uma conversão do papado. Corresponde a mim, como bispo de Roma, estar aberto às sugestões que se orientam para o exercício do meu ministério a fim de que o mesmo seja mais fiel ao sentido que Jesus Cristo quis dá-lo e às necessidades da evangelização.”


“Não se deve esperar do Papa uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões.

Nem o Papa nem a Igreja tem o monopólio na interpretação da realidade social ou na proposta de soluções.

“Penso, aliás, que não se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem respeito à Igreja e ao mundo. Não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar «descentralização».


SOBRE A DESIGUALDADE 3 


“Assim como o mandamento de “não matar” coloca um limite claro para assegurar o valor da vida humana, hoje precisamos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. ESSA ECONOMIA MATA.Não pode ser que um idoso morra de frio em situação de rua e isso não nos incomode ou não seja notícia e uma queda de dois pontos na bolsa de valores tome os noticiários. Isso é exclusão”



“Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída.”

“O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras». 

“Enquanto o lucro de uns poucos crescem exponencialmente, os da maioria ficam cada vez mais longe dessa minoria feliz. Este desequilíbrio provêm de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira. Daí negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pelo bem comum. Se instaura uma nova tirania invisível, as vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, suas leis e suas regras".


“Neste sistema que tende a globalizar tudo no sentido de acrescentar benefícios a qualquer custo, tudo que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefeso ante os interesses do mercado divinizado e convertido em regras absolutas.”

“Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível eliminar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão.”

“Quando a sociedade local, nacional ou mundial abandona na periferia uma parte de si mesma, não haverá programas políticos e nem recursos policiais ou de inteligência que possa garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece somente porque a iniquidade provoca a reação violenta dos excluídos do sistema, mas porque o sistema é injusto em sua raiz.”

“Enquanto não se resolva radicalmente os problemas dos pobres, renunciando a autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da iniquidade, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, nenhum problema. A iniquidade é a raiz dos males sociais.”

Até que não acabe com a exclusão e a injustiça dentro da sociedade e entre os distintos povos será impossível erradicar a violência

É indispensável prestar atenção (...) aos sem teto, dependentes químicos, povos indígenas, anciãos cada vez mais solitários e abandonados...

SOBRE A ECONOMIA 4

“Alguns defendem a teoria do “derrame”, que supõe que todo crescimento econômico, favorecido pela liberdade de mercado, logra provocar por si mesmo maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que jamais foi confirmada pelos fatos, expressa uma confiança absurda e ingênua na bondade de quem detém o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico imperante.”

“A posse privada dos bens se justifica somente para que sirva melhor o bem comum, pelo qual a solidariedade deve caminhar com a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde.” 

“Vivemos ante uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que tem assumido dimensões mundiais.”

“O dinheiro não deve governar”


O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A ação pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais.


SOBRE OS POLÍTICOS 5



"Rogo ao Senhor que nos dê políticos que sintam de verdade a dor do povo e a vida dos pobres! É imperioso que os governantes e os poderes financeiros levantem os olhos e ampliam as suas perspectivas, que se esforcem para que haja trabalho digno, educação e cuidado com a saúde para todos os cidadãos. 

“A política, tão denegrida, é uma altíssima vocação, é uma das formas mais preciosas de caridade, porque busca o bem comum.”

6- Sobre o sacerdócio

"Jesus não disse aos Apóstolos que formaria um grupo exclusivo, um grupo de elite."

"Aos sacerdotes lhes recordo que o confessionário não deve ser uma sala de torturas, mas espaço de acolhida de manifestação da misericórdia do Pai.”

"Os leigos são a maioria do Povo de Deus. Ao seu serviço está a minoria dos ministros ordenados”

7- SOBRE A MULHER

"Faz-se necessário ampliar os espaços de presença feminina mais incisiva na Igreja.” 

"As reivindicações dos legítimos direitos da mulher (...) não se pode eludir superficialmente.”

"O sacerdócio reservado aos homens, como sinal de Cristo Esposo que se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se coloca em discussão.”

8 - SOBRE A JUVENTUDE

105. A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos esperados. 

A proliferação e o crescimento de associações e movimentos predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma ação do Espírito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e dum sentido mais concreto de pertença. Todavia é necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da pastoral de conjunto da Igreja. 


106. Embora nem sempre seja fácil abordar os jovens, houve crescimento em dois aspectos: a consciência de que toda a comunidade os evangeliza e educa, e a urgência de que eles tenham um protagonismo maior. Deve-se reconhecer que, no atual contexto de crise do compromisso e dos laços comunitários, são muitos os jovens que se solidarizam contra os males do mundo, aderindo a várias formas de militância e voluntariado.


 Alguns participam na vida da Igreja, integram grupos de serviço e diferentes iniciativas missionárias nas suas próprias dioceses ou noutros lugares. Como é bom que os jovens sejam «caminheiros da fé», felizes por levarem Jesus Cristo a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra!